Teve início nesta, quarta-feira (22/06), em Roma, o 10° Encontro Mundial das Famílias. O evento foi aberto com o Festival das Famílias, na Sala Paulo VI, no Vaticano, com a presença do Papa Francisco. O Pontífice iniciou o seu discurso, recordando os “acontecimentos que transtornaram as nossas vidas nos últimos tempos: primeiro, a pandemia e, agora, a guerra na Europa, que se juntou às outras guerras que afligem a família humana”. O Papa agradeceu ao cardeal Farrell, ao cardeal Donatis e a todos os colaboradores tanto do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida quanto da Diocese de Roma, cuja dedicação tornou possível este encontro.

A seguir, Francisco agradeceu a todas as famílias presentes que vieram de várias partes do mundo, de modo particular as famílias que deram o seu testemunho: “Obrigado, de coração! Não é fácil falar a um público tão amplo acerca da própria vida, das dificuldades ou dos dons maravilhosos, mas íntimos e pessoais, que vocês receberam do Senhor. Os seus testemunhos serviram de «amplificadores»: vocês deram voz à experiência de muitas outras famílias no mundo que, como vocês, vivem as mesmas alegrias, inquietações, tribulações e esperanças.”

Francisco

A Igreja deve ser como o Bom Samaritano para as famílias

Depois, o Papa se dirigiu às famílias presentes na Sala Paulo VI e aos casais e famílias do mundo, fazendo-lhes sentir sua proximidade onde quer que se encontram e em sua condição concreta de vida. Convidou os participantes a tentarem caminhar juntos, “juntos como esposos, juntos na sua família, juntos com as outras famílias, juntos com a Igreja”. Francisco recordou a “Parábola do Bom Samaritano que encontra pela estrada um homem ferido: aproxima-se dele, toma-o ao seu cuidado e ajuda-o a retomar o caminho”. “Queria que a Igreja fosse isso para vocês: um bom samaritano que se aproxima de vocês e os ajuda a continuar seu caminho, os ajuda a dar «um passo a mais», nem que seja pequeno”, disse o Papa, enfatizando cinco pontos, retomando os testemunhos que foram ouvidos.

Temos de nos converter e caminhar como Igreja

O primeiro, «Um passo a mais» rumo ao matrimônio. Aqui, o Papa referiu-se ao testemunho de Luigi e Serena que não conseguiram encontrar uma comunidade que, de braços abertos, os apoiasse assim como são.

“Isso deve nos fazer refletir. Temos de nos converter e caminhar como Igreja, para que as nossas dioceses e paróquias se tornem cada vez mais «comunidades que, de braços abertos, apoiem a todos»”, frisou o Pontífice. Segundo Francisco, “quando um homem e uma mulher se apaixonam, Deus oferece-lhes um presente: o matrimônio. O matrimônio não é uma formalidade a ser cumprida”. As pessoas “se casam porque querem fundar o matrimônio no amor de Cristo. A vida familiar não é uma missão impossível. Com a graça do sacramento, Deus a torna uma viagem maravilhosa feita junto com Ele; nunca sozinhos. A família não é um ideal, belo, mas na realidade inatingível. Deus garante a sua presença no matrimônio e na família, não só no dia do casamento, mas ao longo da vida inteira, apoia-os todos os dias no seu caminho”. Os Sacramentos do Batismo e do Matrimônio “são a ajuda concreta que Deus nos dá para não nos deixar sozinhos”.

Abraçar a dura cruz da doença e da morte

Festiv

O segundo ponto, «Um passo a mais» para abraçar a cruz, “a dura cruz da doença e da morte de Chiara Corbella” carregada por Roberto e Maria Anselma que contaram a história comovente de sua família. A morte de Chiara não destruiu a família nem eliminou a serenidade e a paz de seus corações. Roberto e Maria Anselma não se tornaram prisioneiros da tribulação, mas se abriram para algo maior: “Os desígnios misteriosos de Deus, a eternidade, o Céu”. “Que o Senhor sustente e torne fecundas as variadas cruzes que as famílias carregam”, disse o Papa.

O perdão cura todas as feridas

O terceiro ponto é «Um passo a mais» rumo ao perdão. A propósito de perdão, Francisco agradeceu ao casal Paul e Germaine por terem falado com coragem sobre a crise que viveram em seu matrimônio com “a falta de sinceridade, a infidelidade, o mau uso do dinheiro, os ídolos do poder e da carreira, o rancor crescente e o endurecimento do coração”.

“Acho que, enquanto vocês falavam, todos revivemos a dolorosa experiência sentida perante situações semelhantes de famílias divididas. Ver a família desagregar-se é um drama que não pode deixar ninguém indiferente. O sorriso dos esposos desaparece, os filhos sentem-se perdidos, de todos desaparece a serenidade. E, na maioria dos casos, não se sabe o que fazer”, sublinhou o Papa. “O perdão cura todas as feridas; é um dom que brota da graça com a qual Cristo inunda o casal e a família inteira, quando se deixa Ele agir, quando se volta para Ele”, reiterou.

As famílias são lugares de acolhimento

No quarto ponto, «Um passo a mais» rumo ao acolhimento, o Papa agradeceu a Iryna e Sofia, pelo seu testemunho, pois deram “voz a muitas pessoas, cuja vida foi transtornada pela guerra na Ucrânia”.

Em vocês, vemos os rostos e as histórias de tantos homens e mulheres que tiveram de fugir de sua terra. Obrigado por não terem perdido a fé na Providência, vendo como Deus atua a seu favor inclusivamente através das pessoas concretas que as fez encontrar: famílias hospitaleiras, médicos que as ajudaram e tantas outras pessoas de bom coração. A guerra as colocou diante do cinismo e da brutalidade humana, mas vocês encontraram também pessoas de grande humanidade. O pior e o melhor do ser humano! É importante, para todos, não permanecer fixados no pior, mas valorizar o melhor, o bem imenso de que é capaz todo ser humano e, a partir daí, recomeçar.

O Papa agradeceu também a Pietro e Erika, por terem narrado sua história e pela generosidade com que acolheram Iryna e Sofia em sua família numerosa. “O acolhimento é um «carisma» das famílias, sobretudo das numerosas! Esta é, no fim de contas, a dinâmica própria da família. Enquanto, nos contextos anônimos, quem é mais frágil acaba frequentemente rejeitado, já nas famílias é natural acolhê-lo: um filho portador duma deficiência, uma pessoa idosa necessitada de cuidados, um parente em dificuldade que não tem ninguém… Isto dá esperança. As famílias são lugares de acolhimento. Sem famílias acolhedoras, a sociedade se tornaria fria e inabitável”, disse ainda Francisco.

A beleza do amor humano

O último ponto, «Um passo a mais» rumo à fraternidade. O Papa agradeceu a Zakia, por ter contado sua história. “É maravilhoso e consolador ver que continua vivo aquilo que construíram juntos, você e Luca. A história de vocês nasceu e assentou-se na partilha de ideais muito altos, que vocês assim descreveram: «Baseamos a nossa família no amor autêntico, com respeito, solidariedade e diálogo entre as nossas culturas». E nada disto se perdeu, nem mesmo depois da trágica morte de Luca. De fato, não só permanecem vivos e interpelam a consciência de muitos o exemplo e a herança espiritual de Luca, mas a própria organização que Zakia fundou de certo modo continua a sua missão. Podemos dizer que a missão diplomática de Luca agora tornou-se uma «missão de paz» de toda a família. Vê-se bem, na sua história, como se podem entrelaçar aquilo que é humano e aquilo que é religião, dando ótimos frutos. Em Zakia e Luca, encontramos a beleza do amor humano, a paixão pela vida, o altruísmo e também a fidelidade ao próprio credo e à própria tradição religiosa, fonte de inspiração e de força interior”.

“Queridos amigos, cada uma de suas famílias têm uma missão a cumprir no mundo, um testemunho a dar. De modo particular nós, os batizados, somos chamados a ser «uma mensagem que o Espírito Santo extrai da riqueza de Jesus Cristo e dá ao seu povo». Deixem-se transformar por Ele, para que também vocês possam transformar o mundo e torná-lo «casa» para quem tem necessidade de ser acolhido, para quem precisa encontrar Cristo e sentir-se amado. Devemos viver com os olhos voltados para o Céu; como diziam os Beatos Maria e Luigi Beltrame Quattrocchi aos seus filhos, ao enfrentar as canseiras e as alegrias da vida, «olhemos sempre do telhado para cima»”, finalizou o Papa.