Fé prática na Divina Providência

Em Schoenstatt, ela tem a forma de uma mensagem de confiança no cuidado de Deus, de um diálogo constante com o Deus da vida e da história e da busca ativa pela vontade de Deus.

A questão

Deus está conosco?

Estamos vivendo em uma época em que a fé em Deus e em sua providência está se dissipando cada vez mais no mundo. Como a pessoa moderna pode experimentar Deus na sociedade completamente secularizada de hoje, de tal forma que Deus não permaneça uma ideia abstrata, mas se torne um Deus real e pessoal, um “ tu” que está perto de nós, que vai conosco, que tem nossas vidas em suas mãos e que nos ama? José Kentenich estava convencido de que o futuro do cristianismo no século XXI será decidido pela resposta a essa questão crucial.

É uma fé em Deus e em Seu cuidado amoroso que se tornou parte da vida prática cotidiana.

Essa fé é prática (em oposição à meramente teórica) porque toma a doutrina da Divina Providência e a aplica à vida cotidiana. Essa doutrina nos ensina a ver todas as pessoas, eventos e coisas à luz da fé e a tentar discernir e obedecer a voz de Deus nos tempos, em nossas almas e na ordem do ser (veja abaixo). Nessa prática de fé, buscamos a mensagem de Deus em todas as circunstâncias. Além disso, busca-se viver a aliança com Deus em um diálogo contínuo de oração e ações. Isso pode ser cultivado por meio de um método de meditação que se concentra em saborear a ação de Deus em nossas vidas.

Essa fé é ativa, no sentido de que não esperamos apenas que o plano de Deus se desenvolva, mas buscamos sua vontade nos eventos diários da vida. Tentamos responder a Ele de forma fiel e eficaz. Essa fé prática e realista é permeada pelo desejo de se conformar totalmente à vontade de Deus.

“Vozes do tempo”

Nas “vozes do tempo”, Deus expressa sua vontade por meio de tudo o que acontece, tanto na vida pessoal quanto nos eventos mundiais – Vox temporis, vox Dei (a voz do tempo é a voz de Deus). Deus fala conosco e nos guia nos caminhos de seu reino por meio das coisas, como, por exemplo, as pessoas que conheço ou os livros que leio, as preocupações e tendências específicas de uma determinada época, uma crise repentina ou uma bênção, uma cruz que Ele envia ou um mal que ele permite, ou as portas que Ele abre ou fecha para nós. Deus pode ser encontrado nos “sinais dos tempos”, trabalhando para nos conquistar para o seu amor. Como ensina São Paulo: “Para aqueles que amam a Deus, todas as coisas concorrem para o bem” (Rm 8:28).

Discernir a voz de Deus nos tempos envolve:

Ter uma profunda atitude de fé na vida cotidiana ("Nada é mera coincidência - tudo vem da Providência de Deus!").

Estar atento aos acontecimentos ao nosso redor, tanto em grande escala (Igreja e mundo) quanto em pequena escala (vida pessoal e familiar). Uma maneira de fazer isso é o método de meditação de Schoenstatt.

Discernir a vontade de Deus. "Com uma mão no pulso dos tempos e um ouvido no coração de Deus" (como o Padre Kentenich foi frequentemente descrito), é preciso então determinar em que direção Deus nos conduz.

"Vozes da alma"

A “voz da alma” é a maneira de Deus falar comigo por meio das inclinações e dos estímulos de minha alma e das pessoas ao meu redor. Deus cria cada alma com certa capacidade e certa missão, e sua resposta a eventos e circunstâncias é uma maneira que Deus usa para revelar seu plano. A voz da alma pode ser discernida a partir de coisas como reações espontâneas, aspirações, anseios, ideais, medos e intuições. Ela inclui a voz da consciência e a certeza de sua vocação. Ela é influenciada pelo temperamento e pelas abordagens para a solução de problemas. Uma voz iluminada da alma procurará estar atenta aos sussurros da graça e se esforçará para receber os dons do Espírito Santo.

Como a voz da alma é a mais subjetiva das três vozes, ela é a mais vulnerável aos enganos do egocentrismo, do medo, da rivalidade, do orgulho, da luxúria ou da preguiça. Portanto, a pessoa deve sempre ter o cuidado de ouvir essa voz em conjunto com as outras vozes, especialmente a voz da ordem do ser. No entanto, essa voz é insubstituível quando se trata de discernir a vontade de Deus, pois ela nos conecta mais profundamente com quem somos. Podemos nos tornar mais sintonizados com a autêntica voz da alma ao promover uma profunda espiritualidade de aliança e uma fé prática na Divina Providência. A obediência que segue nosso estado de vida, a Carta Branca e a Inscriptio também podem nos ajudar a superar o lado arbitrário e egocêntrico dessa voz.

Assim como as vozes do tempo e da alma, Deus nos fala por meio da realidade objetiva na “voz da ordem do ser”, tanto natural quanto sobrenatural. Isso inclui tanto a lei natural quanto a positiva, ou seja, as leis da natureza e as leis da sociedade, os mandamentos e os ensinamentos da Igreja. Ele também nos fala por meio de fatos objetivos sobre quem eu sou como pessoa e as características e a história de minha família ou comunidade. Certas realidades, como meu temperamento e talentos ou o uso passado de meu livre arbítrio (escolha da vocação, consequências de minhas ações), não podem ser ignoradas no discernimento da vontade de Deus. Por exemplo, uma vez que eu tenha escolhido minha vocação, sou obrigado a vivê-la e a assumir minhas responsabilidades para com aqueles que foram confiados aos meus cuidados.

O Padre Kentenich baseou essa voz no insight: Ordo essendi est ordo agendi, ou seja, a ordem do ser determina a ordem do agir. Isso significa que a ordem do universo e de nosso ser concreto estabelece certas normas – tanto negativas (os limites objetivos além dos quais não são morais ou consistentes com minha missão) quanto positivas (os desafios e tarefas que estão implícitos nos bens que Deus me confiou).

Outras leis que ajudam a discernir a voz de Deus incluem a “lei da porta aberta”, a “lei da resultante criadora”, a “lei da adaptação” (Deus adapta a si mesmo e suas ações).