A sinodalidade na Obra de Schoenstatt

Karen Bueno

“O tema da sinodalidade não é o capítulo de um tratado de eclesiologia, muito menos uma moda, um slogan ou o novo termo a ser usado ou instrumentalizado em nossos encontros. Não! A sinodalidade expressa a natureza da Igreja, a sua forma, o seu estilo, a sua missão. E por isso falamos de Igreja sinodal” [1]. Com essa mensagem o Papa Francisco descreve o percurso que a Igreja inicia a partir deste ano de 2021 e segue até 2023, o caminho da sinodalidade. O desejo do Papa é que todas as pessoas sejam ouvidas e envolvidas, num processo de “encontro, escuta e discernimento”.

O Movimento Apostólico de Schoenstatt também faz parte e se insere nesse processo sinodal. É sobre isso que falamos na entrevista com o Pe. Heinrich Walter, da Coordenação Internacional do Movimento. Acompanhe:

Para o senhor, como se dá a sinodalidade na estrutura do nosso Movimento de Schoenstatt? Quando pensamos nas presidências nacionais e na presidência geral, podemos considerá-las “sinodais”? Por quê?

Pe. Heinrich Walter – Primeiro, devemos nos perguntar como entender o caminho sinodal. O Papa Francisco entende a sinodalidade como “o que Deus espera da Igreja do terceiro milênio” (18.10.2015). A Igreja é um povo que segue Jesus, ou seja, uma comunidade de caminho entre os bispos e todos os fiéis. A sinodalidade não deve, portanto, ocorrer apenas entre os bispos, mas entre todo o povo de Deus. É por isso que o processo sinodal começa nas dioceses e paróquias. A sinodalidade é um estilo e uma atitude com a qual a Igreja quer cumprir sua missão no mundo. Schoenstatt faz parte desta comunidade de caminho e participa dos processos das dioceses e da Igreja universal. O Pe. Kentenich acolheu muito bem a autocompreensão da Igreja no Vaticano II como Povo de Deus; ele falou muito frequentemente, depois do Concílio até sua morte, da Igreja peregrina, também de uma Igreja humilde, pobre, mariana, guiada pelo Espírito Santo.

Entendemos Schoenstatt como uma família espiritual de muitas comunidades e ramos. Falamos do Movimento de Schoenstatt em termos do apostolado comum que realizamos na Igreja através da força do carisma. A tarefa das Presidências (nacional e global) está relacionada à unidade da Família e à interpretação autêntica do carisma do Fundador. A tarefa da Central Nacional é cuidar, no âmbito de um país, da inspiração do Movimento e da centralização da vida. A organização concreta do apostolado está nas mãos da liderança de cada diocese. Portanto, não é tão fácil comparar as Presidências com o conceito de sinodalidade. Em Schoenstatt pode-se falar, em vez disso, de um espírito sinodal. Cada comunidade é independente, mas deve ser solidária com todas as outras em larga escala. Nossas Presidências não têm presidentes com autoridade oficial, como os bispos nas dioceses. Elas decidem por unanimidade, na medida do possível. Na Igreja, é sempre o bispo da diocese que decide, e no Sínodo Mundial, o Papa decide depois de todas as deliberações. A Igreja atua, em última instância, através da autoridade da hierarquia; até o momento, os leigos agem apenas no modo consultivo. Em Schoenstatt entendemos o exercício da liderança com uma distinção: ela deve ser exercida com autoridade em princípio, mas de forma democrática na aplicação.

 

O Pe. Kentenich queria que todos “tivessem voz” ao desenvolver esse modelo de organização? Somos fiéis àquilo que nosso fundador pensou em relação à estrutura de Schoenstatt?

Pe. Heinrich Walter – O Padre Kentenich sempre entendeu que a organização de Schoenstatt está a serviço do organismo vivo de nosso Movimento. O espírito e a vida da Família de Schoenstatt foi sua preocupação central: “unir forma e espírito de tal maneira que espírito e vida permaneçam o grande poder dominante”. Portanto, ele entendia liderança como um serviço desinteressado à vida. “Depende da liderança até que ponto uma ideia surge a partir das necessidades e dos anseios da comunidade e se mantém na aspiração aos objetivos”. O Pe. Kentenich foi um grande mestre nisso. Hoje devemos sempre lutar juntos para praticar este estilo de sua liderança e orientação. Precisamos de muita atenção mútua, uma atitude humilde de oração, um profundo conhecimento do carisma de Schoenstatt e um amor heroico uns para com os outros.
A liderança deve estar sempre em contato com os portadores da vida dos ramos e comunidades. Neste sentido, todos têm voz e devem ser levados a sério, mas não num estilo parlamentar, onde a maioria decide. O Papa Francisco descreve uma atitude semelhante: “Uma Igreja sinodal é uma Igreja de escuta. É uma escuta mútua na qual todos têm algo a aprender. Cada um na escuta dos outros e todos na escuta do Espírito Santo para discernir o que ele está dizendo para as igrejas” (17.10.2015).

 

a sinodalidade

 

De que forma Schoenstatt pode contribuir com a Igreja a partir dessa estrutura federativa (formada por comunidades autônomas) e, ao mesmo tempo, que busca caminhar em unidade?

Pe. Heinrich Walter – Pensei muitas vezes sobre isso. Antes de tudo, trata-se de trabalhar a partir do poder da Aliança de Amor no coração da Igreja. Decisivo é um grande amor pela Igreja. A sinodalidade só pode ser fecunda na Igreja se houver muitos portadores de vida que, com verdadeiro espírito cristão, trabalham com autoconfiança e corresponsabilidade. Isto diz respeito tanto a indivíduos quanto a comunidades e movimentos.
Uma Igreja conduzida no modo sinodal precisa de um grande cultivo do espírito para que a vida descentralizada das igrejas seja inspirada por uma profunda motivação interior. Isto tem a ver com o espírito de conversão e a transformação missionária da Igreja, da qual o Papa Francisco fala. Penso aqui também no impacto da Mãe Peregrina entre vocês no Brasil. Quanto mais liberdade houver nos diferentes espaços culturais, mais fortes devem ser as correntes de vida e os processos de vida comuns na Igreja. A isso chamamos cultivo do espírito. Somente com um poderoso cultivo do espírito pode a visão de São Paulo sobre o corpo com muitos membros e sobre o único Espírito com muitos dons diferentes assumir uma forma atual. Hoje falamos também de uma diversidade reconciliada. Considero o trabalho de um amplo cultivo do espírito como uma contribuição central de Schoenstatt para o futuro da Igreja.

 

Em que e de que forma, na sua opinião, podemos melhorar a sinodalidade em nossa Obra?

Pe. Heinrich Walter – No contexto da sinodalidade, o Papa Francisco fala muito sobre ouvir, escutar uns aos outros, ouvir também o Espírito Santo. O Pe. Kentenich fala muito da liberdade e de uma Igreja governada pelo Espírito Santo. Ele escolheu o caminho da união federativa para Schoenstatt porque contava com a sinergia que vem da livre interação dentro de uma família. Através disso ele queria alcançar uma grande vitalidade e fecundidade. Nisso ainda há muito crescimento possível. Entre as nossas comunidades deveríamos acentuar menos os espaços próprios, e estar ainda mais interessados na vida e no trabalho de outros ramos e comunidades. Muitas vezes só conhecemos o que a própria filial ou comunidade faz. A vida se acende na vida, disse o Pe. Kentenich, isto também acontece por meio do interesse, de informações e testemunhos de outros países e culturas. Poderíamos tornar esta riqueza mais visível e assim nos regozijarmos uns com os outros em todo o mundo. Isto pode acontecer por meio de revistas, eventos na mídia e mídias sociais. Tenho a alegria de constatar que muita coisa também acontece através de visitas e iniciativas entre nossos ramos, também em nível internacional. Um grande papel nisso tem a geração jovem, que quer conhecer o mundo inteiro. Eles são exímios embaixadores da vida entre países e culturas.
Tradução: Pe. Antonio Bracht

Fonte: schoenstatt.org.br

[1] Discurso do Papa Francisco aos Fiéis da Diocese de Roma. Sala Paulo VI. Sábado, 18 de setembro de 2021

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