Entre o ruído digital e o sopro do Espírito
A Igreja se prepara, mais uma vez, para viver um dos momentos mais sagrados de sua história: a eleição do sucessor de Pedro. Mas, desta vez, o Conclave se realiza em um cenário novo e desafiador: a era da inteligência artificial e das redes sociais. Já não se trata somente do discernimento dos cardeais reunidos na Capela Sistina, mas de uma eleição que parece também “teatralizada”, comentada e manipulada por algoritmos, tendências digitais e narrativas ideológicas.
A ficção que quer se tornar realidade
O filme Conclave, dirigido por Edward Berger e convertido até o momento no maior sucesso de bilheteria do ano de 2025, contribuiu para reforçar a imagem de uma Igreja dividida, onde o poder, as estratégias e as intrigas palacianas parecem ter mais peso do que a oração e a inspiração do Espírito Santo. Muitos influencers — católicos e não católicos — começaram a especular sobre nomes, alianças e conspirações, como se se tratasse de uma eleição parlamentar e não de um evento eclesial.
Mas, essa narrativa esquece uma verdade fundamental: o Papa não é eleito por pesquisas nem por campanhas midiáticas. É o Espírito Santo que guia a decisão dos cardeais. Como dizia com sabedoria e simplicidade uma catequista da minha diocese: “O Espírito é meio louco: muitas vezes faz o contrário daquilo que lhe pedimos”. E é nessa “loucura divina”, que ultrapassa a nossa lógica humana, que se manifesta a fidelidade de Deus à sua Igreja.
Polarização eclesial: uma tentação recorrente
O debate público tem procurado dividir os cardeais em dois blocos: os continuistas do estilo do Papa Francisco, caracterizado por uma pastoral de misericórdia, proximidade e abertura; e os conservadores, que desejam um retorno à abordagem doutrinária e litúrgica do Papa Bento XVI. Essa falsa dicotomia, promovida por certos setores ideologizados, tem gerado campanhas de desinformação e ataques diretos a vários dos chamados papáveis, esquecendo que o único critério autêntico deve ser a fidelidade ao Evangelho e a docilidade ao Espírito Santo.

Inteligência artificial e manipulação da opinião
Vivemos uma época em que a inteligência artificial pode gerar perfis falsos, manipular imagens e fabricar narrativas credíveis em segundos. Alguns atores digitais estão usando essas ferramentas para semear confusão, polarizar ainda mais as posições e exercer pressão sobre o processo. Tudo isso traz o risco de desviar a atenção do essencial: o caráter espiritual e sobrenatural do Conclave.
Uma Igreja guiada pelo Espírito, não por likes
Diante deste clima de tensão, a Igreja é chamada a manter a serenidade da fé. A barca de Pedro já navegou por águas mais turbulentas do que estas e sempre foi sustentada pela promessa do Senhor: “Eis que estarei convosco todos os dias até o fim dos tempos” (Mt 28,20). A história da Igreja nos lembra que muitos dos papas mais transformadores vieram de eleições inesperadas, até mesmo desconcertantes. Mas sempre providenciais.
Que nunca nos esqueçamos de que a Igreja não é uma empresa, nem um partido, nem uma plataforma viral. É o Corpo de Cristo, e sua Cabeça é o próprio Senhor ressuscitado. Nós, católicos, somos chamados a rezar intensamente pelo novo Papa, e a não cair no jogo da especulação midiática.
Conclusão: confiar, orar e esperar
O próximo papa não será o escolhido pelas redes sociais, mas aquele que o Espírito Santo inspirar no coração dos cardeais. Que este seja um tempo de oração confiante, de espera silenciosa e de fé viva. Não é o barulho do mundo que marca o rumo da Igreja, mas o sussurro do Espírito que guia aqueles que se deixam conduzir.
“Não se deixem confundir pelas vozes do mundo. No silêncio do coração, Deus fala” (São João Paulo II).
*Por Dom Alfredo de la Cruz Baldera, Bispo de San Francisco de Macorís, República Dominicana, membro do Instituto Secular dos Sacerdotes Diocesanos de Schoenstatt.
Fonte: iaantropo.blog