O ano era 2013 e a Igreja estava em alvoroço para a eleição de um novo Papa. O argentino Jorge Mario Bergoglio estava entre os candidatos, mas tinha uma estratégia, quando chegou a Roma naquele ano: “Planejei uma tática para que não me elejam”, conta ele aos Padres de Schoenstatt, em tom de brincadeira. “Vou entrar no salão do Conclave curvado, com uma bengala. Os outros cardeais vão dizer: não vamos dar voto a este velho”.

A estratégia não funcionou e chegamos este mês, no dia 13 de março de 2023, aos 10 anos de pontificado do Papa Francisco. Um período marcado por expressões fortes, como “cultura do encontro”, “revolução da ternura”, “sinodalidade”, “Igreja em saída” e várias outras palavras – que se traduziram, muito mais que letras, em atitudes concretas.

Assim deve ser o novo Papa: as 4 características-chave para Francisco

Quando desembarcou em Roma, Bergoglio tinha em mente o perfil de sacerdote e líder que a Igreja precisava:

“Primeiro, ele deve ser um homem de oração, um homem unido a Deus. Segundo, ele tem que estar totalmente convencido de que o dono da Igreja não é o papa, mas Jesus Cristo, e tem que repetir dia e noite, ‘o dono da Igreja é Jesus Cristo, não o papa’. Em terceiro lugar, deve ser um bispo que busca a unidade, um bispo simples, próximo ao povo, terno. Alguém que está muito disposto a servir. E, em quarto lugar, ele tem que ter a coragem de se livrar da sujeira que se acumulou no Vaticano”.

Sem saber, ele mesmo precisaria se adaptar a esse perfil, mesmo já tendo em si muitas dessas características. E assim se passaram esses 10 anos, sob lutas e conquistas, sob trabalhos e sonhos, sobretudo, sob a ação do Espírito Santo.

O Pe. Alexandre Awi, coordenador da Presidência Internacional da Obra de Schoenstatt, atuou em proximidade com o Papa por vários anos, 5 deles diretamente no Vaticano, e resume, em seu ponto de vista, o pontificado: “Tem sido uma grande renovação para a Igreja, uma oportunidade para reviver o espírito do Concílio Vaticano II. Ele tem colocado acentos muito importantes na Igreja em saída, uma Igreja missionária. Eu diria que o pontificado do Papa Francisco é a aplicação do espírito da conferência de Aparecida para toda a Igreja Universal”.

Um pontificado global e abrangente, universal e sinodal

O pesquisador em eclesiologia Pe. Stan Chu Ilo conta: “Quando o Papa Francisco foi apresentado, em 2013, eu trabalhava como especialista africano em catolicismo global para uma televisão canadense. Fiquei surpreso quando o novo papa foi apresentado para o mundo ao vivo, porque eu não tinha informações biográficas sobre ele. Então comecei a fazer uma lista do que nós, católicos africanos, queríamos do novo papa. Entre outras coisas, um catolicismo descentralizado e descolonizado, com mais poderes para que os líderes da Igreja local pudessem enfrentar os desafios locais usando seus próprios recursos culturais e espirituais. Havia também uma necessidade urgente de dar aos católicos africanos mais assentos na mesa de decisão da Igreja mundial”.

Olhando hoje, Pe. Stan reconhece os muitos passos positivos que a Igreja avançou nesses sonhos: “Uma década depois, com base em meu trabalho como estudioso do catolicismo, eu diria que a maioria dos católicos conhece e ama o Papa Francisco. Eles também veem uma profunda conexão entre sua mensagem e suas prioridades, em suas esperanças e sonhos para uma Igreja melhor e um mundo reconciliado”.

Schoenstatt e o olhar ao futuro


Diante desses 10 anos que se passaram, o Movimento Apostólico de Schoenstatt carrega a gratidão pela paternidade e proximidade do Santo Padre. Foram diversos encontros com as comunidades da Obra, com destaque para a celebração do centenário da Aliança de Amor, em 2014.

Para o Pe. Alexandre, Schoenstatt tem alcançado realizar passos concretos na construção de uma Igreja missionária e apostólica, sonhada pelo Papa, especialmente no âmbito da família e da juventude. E ainda há muito a se construir, em unidade e sintonia com o Santo Padre.

“Eu acredito também que uma Igreja mariana tem muito a ver com esse estilo do Papa Francisco. Embora o Papa não explicite dessa forma, o seu acento mariano tem a ver também com a missão da Igreja, uma Igreja misericordiosa, uma Igreja que é mãe, uma Igreja que é capaz de acolher, que abraça antes de julgar, que procura realmente viver a revolução da ternura, como o Papa fala. Isso também é muito próprio de um carisma mariano, de um Movimento mariano como o nosso. Nesse sentido, nós podemos continuar contribuindo”.