O campo de concentração de Dachau foi inaugurado em março de 1933, construído em uma antiga fábrica de pólvora, próxima à cidade. Este foi o lugar da prisão de personalidades julgadas perniciosas ao regime nazista. Quem eram essas personalidades? As pessoas que na época ajudavam a formar o pensar e as decisões do povo: os políticos, os religiosos, os artistas, os professores… Dachau foi o primeiro campo de concentração construído pelos nazistas, seis anos antes do início da II Guerra Mundial. Os números registram que cerca de 200 mil prisioneiros passaram por este campo, entre franceses, poloneses, soviéticos e italianos. Havia ali um pavilhão que os carcereiros apelidaram de “bunker de honra”, onde ficavam altas personagens da vida pública e religiosa. Apesar de não ser considerado um campo de extermínio, todos os dias havia entre 100 e 150 mortes. “Todos os dias era a mesma rotina”, confessa Jean Kammerer, sacerdote prisioneiro em Dachau. Mais de 32 mil prisioneiros foram executados ou morreram devido a doenças, desnutrição ou brutalização. Os prisioneiros de Dachau também foram usados como cobaias em experimentos médicos nazistas. O tifo, a superlotação, a fome e o frio – havia dias em que a temperatura chegava a 20 graus negativos – foram os melhores aliados da “política de extermínio” do III Reich.  
Cabana número 26 Dachau “bloco dos sacerdotes”
  Vida dos Sacerdotes em Dachau Um total de 2.579 sacerdotes católicos foram registrados em Dachau como prisioneiros. Os padres alemães e dos países ligadas à Alemanha ocupavam o Bloco 26, conhecido como o “bloco dos sacerdotes”. Os sacerdotes poloneses – aglomerados no Bloco número 28 – sofreram condições de vida muito mais penosas. É certo que os sacerdotes tinham certos “privilégios” em Dachau, como poder celebrar a missa, ter uma capela ou estar livre de trabalhos penosos. Mas também é verdade que sofreram todas as demais dificuldades, infelizmente “normais” em um campo de concentração: fome, frio, medo, doenças, humilhações, agressões, risco permanente de morte… O Papa Pio XII, dentro do que lhe era possível intervir, entrou em contato com Hitler exigindo que em todos os campos de concentração os sacerdotes tivessem ao menos uma capela. Para que isso se tornasse possível, em Dachau os sacerdotes tiveram que renunciar a uma das salas do bloco, ficando o espaço ainda mais reduzido. Esta Capela ficou pronta no dia 20 de janeiro de 1941. Os sacerdotes mesmos fizeram tudo: sacrário e altar (hoje essas peças se encontram no Monte Moriá, em Schoenstatt), castiçais, custódia, etc. Aqui estava Jesus Eucarístico em meio aos seus prisioneiros – porém, Jesus foi prisioneiro também, pois além dos sacerdotes do bloco 26, que eram alemães, ninguém mais podia ir até Ele. Apesar das dificuldades, a construção da capela foi, para os sacerdotes e também para os demais prisioneiros, um grande consolo. Significava saber que Jesus estava no meio deles no campo – e que estava no meio deles como o crucificado e coroado de espinhos. Para poderem participar da Santa Missa, os padres tinham de levantar ainda mais cedo que os demais prisioneiros, pois o período de missa não poderia ser retirado do seu tempo de trabalho. Durante a guerra os sacerdotes confeccionaram, eles mesmos, três diferentes portas para o tabernáculo. Em uma delas, numa placa de metal, estão gravadas as palavras de Jesus: “Eis que estou convosco todos os dias” – todos os dias, também aqui! Também agora!
Relíquias de capela
O sofrimento em Dachau despertou uma profunda solidariedade. Por isso, a distribuição oculta da Sagrada Comunhão tornou-se um momento forte da unidade em Cristo. Os sacerdotes poloneses, os padres enfermos e os demais prisioneiros não estavam autorizados a participar da Missa. Por isso, na capela do bloco 26 havia um recipiente com partículas, que eram consagradas e depois distribuídas para os outros presos que não podiam participar da Missa. O Santíssimo foi guardado em um pedaço de papel e partido em vários pequenos pedaços para dar a comunhão a muitos prisioneiros. Todas essas ações estavam expostas ao perigo de morte, pois eram proibidas e os soldados da SS não poderiam saber. Karl Leisner, diácono schoenstattiano, estava com tuberculose, no fim de suas forças, e não sabia se seria possível receber o sacramento da ordem. Em setembro de 1944 chegou a Dachau, como prisioneiro, um bispo da França, Dom Gabriel Piquet, que se prontificou a presidir a ordenação. Clandestinamente, conseguiram os papéis e a licença dos bispos competentes, para Leisner ser ordenado de forma secreta. Os sacerdotes prisioneiros, no pouco tempo livre que possuíam, fizeram tudo o que foi preciso para uma ordenação: mitra, báculo, anel, luvas, paramentos (esses objetos estão expostos no campo, em frente à capela do Carmelo). Tudo era muito perigoso. Logo em seguida o bispo teve que se retirar em silêncio para ninguém perceber que havia acontecido algo tão importante: uma ordenação sacerdotal, a única na história realizada em um campo de concentração. O primeiro “ato” sacerdotal de Carlos Leisner, após sua ordenação, foi visitar os sacerdotes poloneses no bloco ao lado e dar-lhes a bênção neo-sacerdotal.
Altar de Dachau